quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Funcionário público recupera 45 cães apreendidos

 

Estado de Minas - 22/08/2012


Dos mais de 50 animais recolhidos há uma semana pelo Centro de Controle de Zoonoses, Franklin Oliveira não teve acesso a seis que podem estar doentes e a dois que morreram

Arnaldo Viana
Publicação: 22/08/2012 07:29 Atualização: 22/08/2012 07:38

Cães apreendidos na sede da ONG Núcleo Fauna de Defesa Animal foram devolvidos ontem pelo Centro de Controle de Zoonoses (Marcos Michelin/EM/DA Press)
Cães apreendidos na sede da ONG Núcleo Fauna de Defesa Animal foram devolvidos ontem pelo Centro de Controle de Zoonoses

A maioria dos cães apreendidos na semana passada na sede da ONG Núcleo Fauna de Defesa Animal, do funcionário público Franklin Soares Oliveira, foi devolvida ontem pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), por ordem judicial. Às 8h, Franklin e amigos dispostos a ajudá-lo a zelar pelos animais já estavam na porta do canil municipal e cerca de duas horas depois saíram com 37 cachorros adultos e oito filhotes ainda em amamentação. Dois morreram em brigas no canil e seis continuam recolhidos por suspeita de leishmaniose.

Foi uma festa de latidos, pulos e ganidos quando Oscar, Belezinha, Baiana, Fofão, Ringo Luque e companheiros de reclusão viram Franklin entrar no canil. Imaginavam que iriam com ele para casa, no Bairro Taquaril, mas teriam outro destino. O juiz Pedro Cândido Fiúza Neto, do Juizado Especial Criminal, acatou relatório do Ministério Público, que denunciou a ONG com base em diagnóstico de técnicos do CCZ, de que no imóvel os animais viviam ”situação de risco” e em condições “insalubres”, apesar das provas em contrário apresentadas pelo diretor da organização não governamental.

O juiz liberou os animais desde que fossem deixados sob a responsabilidade de pessoas que possam cuidar bem deles. Cumprindo essa determinação, 23 cães foram hospedados em um hotel especializado em receber cães, que cobra R$ 10 de diária por animal, 12 foram levados pelo ativista Jef César Campos, filiado ao Partido Verde, uma cadela com sete filhotes e fêmea com uma cria foram para casas de colaboradoras da ONG.

O processo aberto no juizado a partir de denúncia do MP não está extinto com a liberação dos cães, todos vira-latas, recolhidos nas ruas e até no fundo da galeria do Ribeirão Arrudas por Franklin, que há 32 anos se dedica à causa dos animais abandonados. O juiz deu à ONG prazo de 30 dias para apresentação de documentos que provem serem eles bem tratados e que não correm risco. Caso contrário, Franklin perderá a guarda dos cães, que mantém com gastos até do próprio bolso à espera de candidatos à adoção.

A advogada Val Conceição Perpétuo não vai esperar tanto: hoje mesmo deve levar ao juizado parte dos papéis, como receitas, laudos veterinários e atestados de vacinas. “Não acredito que esse processo vá adiante. O máximo que pode ocorrer é o juiz aplicar a Franklin uma pena alternativa, como a doação de uma cesta básica”, diz Val. O juiz Pedro Cândido não pode falar, porque a magistratura não permite que comente causas em andamento.

Franklin está feliz pela liberação dos animais, mas não se sente vitorioso longe dos bichos. “Ainda estou sem chão. Isso foi muito humilhante para mim.” Se não bastasse o sentimento de perda, os 12 cães levados por Jef foram alojados em um imóvel comercial na Avenida Raja Gabaglia, mas precisam ser retirados de lá porque estão muito agitados e barulhentos. “Estou sem lugar para eles”, diz Franklin.

Ordem de despejo

Mesmo se o processo for arquivado pelo Juizado Especial, Franklin não terá onde alojar os animais em definitivo. Ele recebeu ordem de despejo da casa que ocupa, no Bairro Taquaril. Conseguiu embargo, mas a qualquer momento terá que sair. Por isso, mantém campanha no blog Franklin e um Assis, por meio do qual arrecada fundos para a compra de uma área na Grande BH. A página orienta também sobre como adotar um dos vira-latas mantidos pela ONG.

Coleiras contra a leishmaniose

A coleira com a substância deltramina a 4%, que funciona como inseticida e repelente e protege os animais contra o mosquito flebótomo, transmissor da leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, começou a ser distribuída ontem gratuitamente para 6.206 cães de Montes Claros, no Norte de Minas, pelo Ministério da Saúde. A ação, inédita no mundo, integra projeto piloto do Programa Federal de Controle da Leishmaniose Visceral, que será desenvolvido entre 120 cães, em 12 cidades de sete estados do país. Montes Claros é o segundo município beneficiado, seguido de Teresina. A cidade mineira foi escolhida para o estudo por causa do grande número de cães com leishmaniose e devido à gravidade da doença em humanos. Segundo dados do Centro de Controle de Zoonoses do município, de 2007 a 2011 foram confirmados 129 casos em humanos, com 10 mortes. (Luiz Ribeiro)

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